Em Bona, a caminho de Cancun
Começa hoje a reunião de Bona, que irá fazer a ponte entre a Cimeira de Copenhaga e a de Cancun, no México, lá para o final do ano.
Esta ronda vai durar 10 dias e tem como objectivo lançar as bases para a reunião do México. Recorde-se que, em Copenhaga, uma das críticas feitas à Cimeira do Clima foi a inexistência de um trabalho de casa por parte dos principais países envolvidos nas negociações.
Em Bona estará em cima da mesa a implementação do apoio de 100 mil milhões de euros, a conceder até 2020 aos países pobres, para a protecção climática, na sequência da decisão tomada em Copenhaga.
Hoje, porém, o The Guardian dá conta de uma carta escrita por Yvo de Boer – chefe climático das Nações Unidas – para os seus colegas, pouco depois do fim da Cimeira de Copenhaga.
Nela, de Boer explica que as negociações falharam porque a presença de 130 líderes mundiais paralisou a tomada de decisões. “Convidar chefes de Estado parecia uma boa ideia, mas a sua chegada antecipada não teve o efeito que esperávamos. O processo ficou paralisado e o rumor e a intriga tomaram conta [dos trabalhos]”, referiu de Boer na carta.
Também a tomada de posição da Dinamarca e outros países ocidentais a favor dos Estados Unidos – contra o interesse dos países mais pobres – terá impedido um eventual acordo vinculativo.
Aliás, a cimeira terá começado logo mal, depois da Dinamarca ter apresentado a apenas alguns países um draft unilateral de um possível documento. Isto – diga-se – antes mesmo da conferência começar.
“[O texto dinamarquês] destruiu dois anos de esforços. Todas as nossas tentativas para evitar que este texto fosse entregue falharam”, explicou de Boer nessa carta.
O texto criou na conferência (do Clima) o clima – que se notou dia após dia – de desconfiança. E apenas ajudou a extremar as posições. A pseudo cereja-em-cima-do-bolo, que seria a presença de Barack Obama e Wen Jiabao, não só não galvanizou a conferência como acabou por ter um efeito exactamente contrário.
Quando vemos responsáveis como Connie Hedegaard (ex-ministra dinamarquesa do Clima e uma das responsáveis pela organização da conferência) dizer que os “países simplesmente não quiseram chegar a um acordo”, temos também que ter em conta que a estratégia de organização, pura e simplesmente, não existiu.
Ou, se existiu, não resultou. Terá aí começado o debacle da Cimeira do Clima o que, aliado a esta reduzida predisposição dos países em trabalhar num acordo global, transformou Copenhaga num fracasso.
Como não repetir estes erros em Novembro, no México? Em primeiro lugar, começar por ser mais transparente. Ser mais sensato e estabelecer uma política de confiança a partir do pré-Cancun. Em segundo lugar, deixar as negociações… para os negociadores. Em terceiro lugar, não resistir a fazer tudo numa só conferência = não entrar em pânico.
Até ver, parece que a Conferência de Cancun estará a ser negociada/trabalhada num registo diferente de Copenhaga. A China já tem acordos de consenso político assinados com a União Europeia e com os Estados Unidos.
Serão estes acordos suficientes para um consenso na Conferência de África do Sul, no final de 2011? Esperemos que sim. Pelo menos, que os bastidores de Copenhaga não se repitam nas próximas reuniões.