Mobilize Brasil, o irmão mais novo do Menos Um Carro
O Brasil, é sabido, tem um dos desafios mais interessantes no que toca à mobilidade sustentável. Em primeiro lugar, o País tem dos trânsitos mais caóticos do mundo. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília são cidades congestionadas, com filas diárias e gigantescas.
Todo o sistema é insustentável. Sobre o trânsito de São Paulo, por exemplo, lembro-me sempre do desabafo do futebolista Liedson, que no início do ano trocou o Sporting e Lisboa pelo Corinthians e São Paulo.
Contava o Levezinho que tinha saudades do trânsito de Lisboa. “[Em Lisboa] era rápido [chegar aos treinos], levava 30 minutos e não tinha trânsito. Cruzava uma ponte de quase 17 quilómetros e depois passava por uma cidadezinha e pronto. Aqui é complicado. Moro no Tapué, para vir seria rapidinho, mas com trânsito tenho de sair 40 minutos antes, no mínimo, para chegar a horas”.
Ou seja, em Lisboa, Liedson demorava 30 minutos para fazer 32 quilómetros, em São Paulo precisa de 40 minutos para percorrer 10. Para quem só conhece o trânsito lisboeta, julgo que este exemplo é suficiente para exemplificar os problemas de congestionamento paulistas ou cariocas.
Apesar de tudo, o Brasil está “sentado” numa oportunidade histórica para melhorar a sua mobilidade sustentável, sobretudo ao nível da construção de novos e mais eficientes transportes públicos.
A Taça das Confederações, em 2013, mas sobretudo o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 são a “deixa” – económica e social – para esta transformação. Mais do que a oferta hoteleira, segurança ou reforma dos estádios, é a mobilidade urbana que será o maior desafio para o País.
De tal forma que o Brasil está já a pensar em decretar feriados municipais nos dias de jogo, para evitar os engarrafamentos. A solução, porém, claramente não está aqui. Para além dos sempre necessários investimentos na rede de transportes públicos – que, com alguns problemas, é certo, estão a ser realizados –, é preciso uma mudança de mentalidades na sociedade brasileira. Um pouco, aliás, como acontece na sociedade portuguesa.
É preciso incentivar os cidadãos a trocarem o carro pelos transportes públicos, a andar mais a pé – por vezes pegamos no carro só por pegar – utilizar a bicicleta nas cidades. Confesso que, em Lisboa, vejo várias vezes utilizadores de bicicletas em zonas de maior trânsito, no Marquês de Pombal ou Avenida da Liberdade. E se é possível utilizar, de forma cómoda, a bicicleta em Lisboa, então é possível fazê-lo em qualquer outra cidade do globo. Incluindo as brasileiras.
Voltando ao Brasil e ao título deste post: foi com bastante agrado que vi que o Brasil já tem um projecto de promoção de conteúdos relacionados com a mobilidade sustentável, o Mobilize Brasil.
O portal arrancou a 20 de Setembro, é o primeiro site brasileiro inteiramente dedicado ao tema da mobilidade urbana sustentável e foi concebido pelo administrador público Ricky Ribeiro. Licenciado pela FGV – Eaesp e com um mestrado em Sustentabilidade pela Universidade Politécnica da Catalunha, Espanha, Ricky idealizou este projecto depois da sua estadia em Barcelona.
“A mobilidade é o grande desafio das cidades contemporâneas, em todas as partes do mundo. Optar pelo automóvel parecia ser a resposta eficiente do século XX às necessidades de circulação, mas levou à paralisia do trânsito, com desperdício de tempo e combustível, sem contar os problemas de poluição atmosférica e ocupação do espaço público. Agora é preciso implementar sistemas de transporte sobre carris, como metro, comboios e eléctricos modernos, autocarros limpos, com integração a ciclovias, e fazer calçadas confortáveis, niveladas e sem buracos nem obstáculos”, explicou.
Tal como o Menos Um Carro – movimento lançado pela GCI para a Carris em 2009 e que promove a mobilidade sustentável na Grande Lisboa através da partilha de conteúdos – também o Mobilize Brasil vai divulgar, diariamente, notícias do Brasil e do mundo. Vale a pena acompanhar em http://www.mobilize.org.br/.