Soweto, Joanesburgo, África do Sul
Começou há minutos, no Soccer City, Soweto, Joanesburgo, um dos principais momentos do século XXI, que inspirará todo um século que ainda temos pela frente.
Não estou a falar de futebol. Estou a falar do futuro, de cultura, de entusiasmo, de mudança de mentalidades, de História.
Hoje, todos os olhos do mundo estarão, pela primeira vez, sincronizados no continente Africano – segundo a Initiative, este mundial terá uma audiência global 5% superior ao da Alemanha, e uma média de 125 milhões de espectadores, em directo, por jogo.
Há tanto para escrever sobre este momento que, provavelmente, me perderei em minúcias. Mas então vamos a elas: o que significa, para a África, este Mundial?
Em primeiro lugar, significa um atestado de competência para aquele enorme continente. A África do Sul conseguiu pôr de pé, em plena crise económica e financeira, aquele que é um dos quatro ou cinco mais complicados e difíceis eventos do mundo. Até ver, prova superada.
Em segundo lugar, o mundial sul-africano vai ajudar a mudar um País que enfrenta, nos próximos anos, vários desafios.
A emergência de políticas adequadas de mobilidade e construção sustentável será indispensável para que a África do Sul – juntamente com um pequeno leque de outras potências africanas, entre os quais Angola, a Nigéria, Tunísia, Marrocos, Argélia ou Egipto – lidere o continente para o next level de crescimento económico. E social.
Leio no Menos Um Carro que a África do Sul está a utilizar o Mundial 2010 para reorganizar o planeamento urbano e realocar investimentos para áreas como a mobilidade sustentável.
É sabido que a África do Sul, como a grande parte dos países daquele continente, nunca teve um bom sistema de transportes públicos. Mas é aí que está o futuro. Cidades com cinco, dez, quinze ou vinte milhões de habitantes, cidades pujantes e desenvolvidas têm que ser bem servidas de transportes públicos: BRT, Metro, comboio ou outros. Este não é um tema de menor importância.
Sabe-se já que também o Brasil vai preparando o Mundial 2014 com base numa mobilidade mais sustentável – e que tanto Pequim, para os Jogos Olímpicos de 2008, e Xangai, para a Expo 2010, canalizaram grande parte das verbas investidas na construção de uma gigante rede de metro - ou outros meios de transporte - e no desenvolvimento e planeamento urbano.
Outro assunto: entre os mundiais de futebol, Expos e Jogos Olímpicos, estamos assim divididos nos últimos anos: Mundial (África do Sul 2010, Brasil 2014, e a Rússia e Qatar terão candidaturas para 2018 ou 2022); Jogos Olímpicos (Pequim 2008, Rio de Janeiro 2016 e, para 2020, espera-se que Marrocos, África do Sul, Qatar, Dubai ou Turquia apresentem propostas).
Em relação às Expos, depois de Xangai 2010 e Yeosun (Coreia do Sul) 2012, estão na calha para 2020 o Brasil (Rio de Janeiro ou São Paulo), as Filipinas, a Tailândia, os Emirados Árabes Unidos ou a Turquia. O que nos dizem estes dados sobre a mudança do poder mundial? Sim, é bom que comecemos a olhar para o que eles nos dizem.
Um desejo para o próximo mês: que o Mundial seja um sucesso e que o Mundo mude um pouco a forma como olha para as South West Townships (Soweto), como a Veja muito bem escreveu ontem, para aquele país magnífico e, sobretudo, para toda a África.