As alterações climáticas e a monarquia
Enquanto que em Portugal os apoiantes da causa monárquica divertem-se a hastear bandeiras na Câmara Municipal de Lisboa ou no Parque Eduardo VII, no resto da Europa os príncipes e princesas preferem abraçar outros assuntos. Como o das alterações climáticas.
O Financial Times deste fim-de-semana destaca o trabalho da monarquia europeia – especialmente dos herdeiros ao trono – na promoção da educação ambiental e no combate às alterações climáticas.
São cinco os exemplos dados: o Príncipe Haakon da Noruega, o Príncipe Alberto do Mónaco, o Príncipe Frederico da Dinamarca, a Princesa Astrid da Bélgica e o Príncipe Carlos de Inglaterra.
Segundo o FT, a nova geração de monarcas está altamente consciente para a questão da sustentabilidade. No ano passado, os príncipes Haakon e Frederico e a Princesa Victória da Suécia viajaram até à Gronelândia para ver com os seus próprios olhos os efeitos da alterações climáticas. Lá, visitaram um centro para a medição das alterações climáticas nos últimos 700 mil anos (a partir da análise dos diferentes níveis de gelo) e corroboraram a sua preocupação inicial.
De acordo com o trabalho de pesquisa de Fiona Harvey, jornalista do Financial Times, nos últimos anos têm-se multiplicado os esforços da monarquia europeia na promoção das políticas de sustentabilidade, esforços esses que passam pela organização de jantares reais, reuniões com líderes empresariais, conferências abertas, sessões fotográficas em regiões “pitorescas”, criação de fundações pró-ambientais ou meros discursos de ocasião.
O resultado? Vários empresários mudaram de opinião em relação aos esforços das suas empresas para cortar emissões de carbono e as questões ambientais chegaram a sítios – glamourosos – onde antes seria impossível aceder. Desde as páginas das revistas de celebridades à agenda real. E isto ainda é só o início. Quando estes príncipes e princesas chagarem ao trono, diz o FT, esta influência monárquica nas questões pró-ambientais será muito maior.
Outro exemplo: na última Cimeira do Clima, em Copenhaga, o Príncipe Frederico organizou um encontro entre representantes dos Governos, cientistas, activistas e jornalistas. O objectivo? Falar sobre as alterações climáticas.
Tanto o príncipe Frederico da Dinamarca como os outros herdeiros entrevistados pelo Financial Times dizem que o seu papel na actual luta contra as alterações é óbvio: a monarquia tem os seus valores baseados na noção de herança. E há maior herança do que deixar o mundo “habitável” para os nossos sucessores?
Mas o melhor exemplo de luta contra as alterações climáticas vem do Príncipe Carlos. A sua preocupação com a responsabilidade ambiental não é nova, mas nos últimos cinco anos ela tomou proporções até agora inimagináveis. Fundou um fórum de negócios sobre o tema, conduziu dezenas de reuniões e enviou cartas para Governos e Nações Unidas.
Recentemente, o Príncipe Carlos encorajou um grupo de empresários a encontrar uma forma de preservar as florestas utilizando mecanismos de mercado. A iniciativa tem tido bons resultados e é liderada pelo financeiro Stanley Fink.
Mas provavelmente a maior ajuda de Carlos para a luta contra as alterações climáticas tem sido a sua vontade em influenciar – directamente – políticos para as suas ideias sustentáveis. Numa monarquia habituada durante centenas e centenas de anos a lutar, esta é apenas mais uma guerra que é preciso vencer.