Estados de espírito
Há quase um ano, apostámos de caras que iria ser feita história em Copenhaga. O fracasso dessa Cimeira do Clima foi um duro soco no estômago – sobretudo para a União Europeia – o que, porém, não acalmou a ânsia da comunidade global em lutar por um futuro sustentável.
Hoje entramos em Cancún sem expectativas - e sem líderes - mas para trás ficou um ano, na minha opinião, quase sem parelelo. Um ano magnífico e em que a sociedade se mobilizou de forma extraordinária para tentar alterar comportamentos e mentalidades.
Em Portugal e no resto do mundo. Em Inglaterra. Nos Estados Unidos.
Foi o ano do Limpar Portugal – que venceu um Green Project Award em Campanha de Comunicação – e do 10/10/10. Das conferências de sustentabilidade e biodiversidade. Das renováveis. Das cidades verdes. Do esquema de partilha de bicicletas de Londres, do Menos Um Carro em Lisboa e dos biliões de investimento em alta velocidade, na China.
O que os políticos não fizeram, os (outros) decisores executaram. Os cidadãos mobilizaram-se e a mudança de mentalidades deu um importantíssimo passo rumo ao desenvolvimento sustentável.
Também há um ano, o Banco Alimentar recolheu 2.850 toneladas de alimentos para a época natalícia. Este ano, numa conjuntura em que um em cada cinco portugueses estão no limiar da pobreza, estes números subiram para as 3.625 toneladas.
Mais do que as minhas, deixo as palavras da presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, “As quantidades de géneros recolhidos, apesar da profunda crise económica que afecta o País, mostram que os cidadãos portugueses são intrinsecamente generosos e aderem inequivocamente a projectos cujos objectivos compreendem”, continuo Isabel Jonet.
“Mostrámos todos que é possível reagir, sem desesperança, tomando entre mãos e contribuindo com aquilo que está ao nosso alcance para a resolução dos problemas mais prementes que afectam a nossa sociedade. Cá estaremos para provar que somos merecedores desta adesão, desta solidariedade e desta confiança”, disse ainda.
Cimeira do Clima e Banco Alimentar: num ano, tudo mudou. O que se manteve? A capacidade do cidadão comum em fazer milagres e lutar por projectos em que, não só acredita, como compreende.
Cada vez mais, as pessoas podem mudar o mundo sozinhas. E elas sabem perfeitamente disso.