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José Manuel Costa

José Manuel Costa

A arte do Centro Colombo e a democratização da cultura

31.03.11, José Manuel Costa

De hoje e até Outubro, o Centro Colombo vai democratizar o acesso à cultura e arte, através de uma parceria com o Museu Colecção Berardo.

 

A partir de hoje é já possível ver, na Praça Central do Colombo, uma instalação de Joana Vasconcelos – “Coração Independente Vermelho” – que faz parte da exposição “Quatro Elementos, Quatro Artistas”.

 

Vale a pena estar atento a esta parceria, que coloca o Colombo na vanguarda da divulgação das actividades culturais, e respectiva abertura à sociedade civil.

 

Será certamente o início de um projecto que levará o Centro Colombo a outros movimentos artísticos e parceiros culturais, mas destaco, desde já, a parceria com o Museu Colecção Berardo, um dos maiores impulsionadores de arte em Portugal.

 

Se (ainda) há parcerias (chamadas de) win-win, esta é uma delas. Por um lado, permite aos visitantes – aos milhares de visitantes – do Colombo o acesso imediato a obras de arte que, normalmente, estão apenas expostas em museus ou outros centros especializados em arte.

 

Ao contactarem de perto com estas obras, acredito que a grande parte dos visitantes do centro ficarão com curiosidade em saber mais, aprofundar essa mesma curiosidade, podendo-o fazer, certamente, no Museu Colecção Berardo – ou outro museu português. E é, de facto, uma abertura fantástica do Museu Berardo a uma realidade à qual não estará habituado, o que é de valorizar.

 

É mais um projecto de mudança de mentalidades português. Como tenho referido várias vezes por aqui, este é o território natural das consultoras de Public Relations (aliás, a GCI esteve envolvida neste projecto). Estou certo ninguém ficará indiferente a esta democratização da cultura.

O regresso da dúvida: quem deve ficar com as redes sociais?

28.03.11, José Manuel Costa

Há um ano escrevi um artigo de opinião para o Imagens de Marca sobre quem deveria ficar com as redes sociais: se as consultoras de Public Relations, agências de publicidade, social media ou de marketing digital.

 

Hoje regresso ao tema porque a Marketing Magazine volta a perguntar quem deve ficar com a gestão das redes sociais: departamentos de marketing, consultoras de Public Relations ou a equipa de comunicação do cliente, os próprios serviços de apoio ao consumidor ou as agências especializadas em social media?

 

Se, há um ano, a PR Week – que então citei – remetia para o relatório Digital Integration, desenvolvido pela Diffusion, a Marketing Magazine vai agora mais longe e fala, assertivamente, com quem toma esta decisão.

 

A reportagem é bastante interessante e dá-nos uma visão abrangente do tema, com cada ponto de vista da área das consultoras analisado ao pormenor e com os respectivos trunfos e argumentos colocados em cima da mesa.

 

Mas, mais do que esta discussão – que será sempre uma questão em aberto e passível de múltiplas opiniões – onde esta reportagem inova é na forma como aborda o que têm a dizer as próprias marcas, neste caso a Sony Ericsson, Naked Wines e Land Rover. E Chrsyler.

 

E é nesta questão, verdadeiramente, que as consultoras deveriam colocar os seus olhos. Um exemplo: Ben Padley, vice-presidente da Sony Ericsson e responsável pelo marketing digital e CRM da empresa explica que a marca tomou a decisão, “há dois anos”, de focar a sua energia no Facebook e YouTube.

 

“Queríamos encontrar plataformas core onde fôssemos excelentes e recrutar embaixadores para a nossa marca. No início do ano passado, tínhamos cerca de 300 mil fãs no Facebook, agora temos quatro milhões”, explica o responsável.

 

Padley explicou ainda como uma marca global, como a Sony Ericsson, consegue gerir e organizar a sua estratégia em todo o mundo.

 

“Estabelecemos guidelines globais para as redes sociais, que são seguidas em todos os países e departamentos. Temos acordos com, diria, o serviço ao cliente, sobre o número de pessoas que eles nos irão dedicar para estabelecermos os nossos canais nas redes sociais e temos governance interna para gerir o conteúdo que criamos”, explicou.

 

O responsável diz ainda que, quando alguém da Sony Ericsson coloca alguma coisa no Facebook, é como um micro press release. “Vai para quatro milhões de pessoas, o que é uma cobertura maior que a maior parte dos jornais”.

 

Assim, a marca estabelece uma equipa que revê, semanalmente, os conteúdos que todas as outras equipas disponibilizam - caso façam sentido - para as redes sociais, e aprova-os superiormente. “Tentamos, na medida do possível, trabalhar a parte editorial, ainda que consigamos dar aos outros departamentos alguma flexibilidade para criar mensagens ad-hoc”, conclui o responsável.

 

Vale a pena perceber quais as estratégias da Naked Wines e Land Rover – e também o que correu mal na Chrysler… - e ver como as diferentes abordagens das marcas podem ajudar a escolher que consultora trazer para ajudar no desenvolvimento e execução dessa mesma estratégia. Simples?


Leia o artigo aqui. 

O fantástico plano da Unilever para a vida sustentável*

24.03.11, José Manuel Costa

* Artigo publicado no Imagens de Marca, aqui.

 

"Banho não é um SPA… três minutos já está", canta-nos uma campanha de responsabilidade social da Sonae Sierra.

 

O slogan desta campanha poderia ser também – e muito bem – utilizado pela Unilever, que descobriu que o seu maior impacto estava relacionado com a utilização de champôs e sabonete – por causa dos banhos dos consumidores, que duram entre 10 a 12 minutos.

 

Por isso, a multinacional não vai parar enquanto não conseguir mudar esta situação, e está mesmo já a trabalhar com fornecedores e consumidores para reduzir o impacto dos seus produtos no ambiente.

 

Esta curiosidade foi revelada há duas semanas durante a sessão pública de apresentação da quarta edição dos Green Project Awards, que decorreu na Culturgest.

 

No palco estava a vice-presidente global da Unilever para a sustentabilidade, Karen Hamilton, que apresentou o Sustainable Living Plan.

 

Confesso que me surpreendeu a ambição, abrangência e detalhe do plano, que pretende, entre outros, ajudar mil milhões de pessoas a melhorarem a sua saúde e bem-estar, reduzir em metade a pegada ecológica de todos os seus produtos e obter de forma sustentável 100% da matéria-prima derivada da agricultura.

 

Não que não estivesse à espera de algo parecido da Unilever, mas não me lembro de ter visto um plano tão ambicioso para reduzir o impacto no ambiente de uma multinacional.

 

Mais: como disse Karen Hamilton, não basta reduzir o impacto da Unilever no ambiente, mas sim mudar a vida a mais de mil milhões de pessoas.

 

O plano é tão vasto que aborda preocupações como a nutrição sustentável, a promoção do bem-estar ou a reciclagem. Karen Hamilton chegou a dizer que a Unilever não via “problema nenhum entre o consumo responsável e o crescimento do negócio” – pelo contrário, um é potenciador do outro.

 

O Sustainable Living Plan, diga-se, não substitui os projectos de sustentabilidade, em nome próprio, das centenas de marcas da Unilever – Lipton, Persil, Rexona, Skip ou Ben & Jerry’s são apenas algumas delas.

 

Um exemplo: ao mudar a embalagem do desodorizante Rexona, a multinacional anglo-holandesa conseguiu poupar 18% em plástico, o que corresponde à poupança de 15 milhões de euros por ano. Quem disse que o consumo responsável e o crescimento do negócio não poderiam ser cúmplices?

 

Da apresentação de Hamilton retive ainda duas ideias. A primeira é a constatação de que as fábricas portuguesas da multinacional estão no bom caminho em relação às práticas de sustentabilidade – foram mesmo elogiadas pela responsável.

 

A segunda – e aqui voltamos ao início – levou Hamilton a admitir que uma das grandes preocupações da Unilever estava relacionada com a redução do consumo de água – tanto nas fábricas como na própria casa dos seus consumidores.

 

Esta preocupação – e agora digo eu – deverá ter sido redireccionada da vice-presidência da área de sustentabilidade para o departamento de I&D. E estou certo que, em breve, teremos mais novidades sobre esta preocupação da multinacional.

Barcelona, quase tudo bem feito

22.03.11, José Manuel Costa

É talvez o dado mais impressionante do especial que o Financial Times dedica, hoje, a Barcelona. A cidade catalã arrecada, por ano, 2,5 mil milhões de euros só nas conferências realizadas no seu principal centro de exposições, a Fira.

 

Ao todo, são 80 feiras sectoriais que se realizam, todos os anos, na Fira. Destes 2,5 mil milhões de euros – o valor foi calculado pela Iese, a escola de negócios de Barcelona –, quase 40% são gastos pelos visitantes e expositores na sua estadia em Barcelona, por isso não é anormal ver os hotéis do centro cheios, assim como os restaurantes e bares.

 

“Usamos a marca Barcelona, que é bastante forte”, explica Agustín Cordón Barrenechea, CEO da Fira.

 

Para além de proporcionar negócio aos hotéis e indústria de lazer da cidade, a Fira trabalha directamente com outras infra-estruturas de Barcelona, como o porto, que será essencial na próxima feira dos fornecedores de máquinas para o sector têxtil, em Setembro próximo.

 

Deste especial sobre Barcelona – que recomendo – sugiro outros dois artigos. Um sobre como a indústria automóvel da região se transformou nos últimos dois anos, estando agora focalizada no desenvolvimento de tecnologias verdes para carros eléctricos e híbridos.

 

Um terceiro artigo – fantástico – explica como a cidade soube aproveitar o balanço dos Jogos Olímpicos de 1992 para se tornar no paradigma do urbanismo ligado ao design. Barcelona regenerou-se, quase que se redesenhou, mas nem isso explica, na totalidade, o seu ressurgimento cultural.

 

A resposta pode ser encontrada nos trabalho de Gaudí e do visionário Ildefons Cerdà, que planeou a cidade e conseguiu acomodar, no centro da cidade, uma mistura social inexistente, por exemplo, nos centros de Londres, Paris, Berlim e Nova Iorque, onde quem tem menos posses é obrigado a fugir para as fronteiras da cidade.

 

Em Barcelona, a riqueza da mistura social continua a permanecer nas artérias centrais, mantendo a cidade viva qualquer que seja a fase económica ou social que esta enfrente.

 

Finalmente, o jornalista Edwin Heathcote destaca o poder do espaço público em Barcelona. É uma das grandes armas de Barcelona, o facto de ser uma cidade feita para os seus cidadãos.

 

Se não podemos todos viver em Barcelona, pelo menos que a cidade catalã seja um case study, em termos de planeamento urbano, para as futuras megacidades que estão ao virar da esquina. E para outras, por vezes tão perto.

Elogio à Edelman

18.03.11, José Manuel Costa

Pela quarta vez em seis edições, a Edelman venceu o prémio de “Large Agency of the Year”, atribuído pela PR Week. Não é bem uma novidade, portanto, mas não posso deixar de partilhá-la convosco.

 

“As expectativas são sempre elevadas para a maior PR Agency independente do mundo” – explica a PR Week, mas o que gostaria de realçar, porém, é o crescimento dos escritórios norte-americanos da Edelman.

 

Os números são impressionantes: São Francisco cresceu 51%, Nova Iorque 32% e Chicago 21%. As receitas aumentaram 16% nos Estados Unidos e 15% globalmente.

 

“A Edelman exemplificou como as consultoras de PR estão a evoluir para além das tácticas tradicionais [de PR]. Por exemplo, o seu papel cada vez maior como produtora de conteúdos – com uma unidade própria – trouxe dividendos a vários clientes”, explicou a publicação.

 

É a brilhante forma com a Edelman dita tendências, segundo a PR Week (o adjectivo é meu), que a torna numa consultora única no mundo.

 

“A Edelman continua a estar à frente da profissão em termos de liderança e da sua diversificada lista de serviços para clientes globais”, chegou a desabafar um dos júris do prémio. Citado pela própria PR Week, é claro.

 

A PR Week destaca ainda a aquisição da brasileira Significa, da Vollmer (agência de CSR do Texas), da The Centre (Bruxelas) e da Hinfellar PR (líder holandesa na área da saúde e comunicação alimentar). O que, de resto, dá a entender o que a Edelman pensa das futuras áreas chave das PR.

 

Finalmente, o elogio ao Edelman Institute e aos projectos de propriedade intelectual da empresa, incluindo o Trust Barometer, o Health Engagement ou o Good Purpose, projectos que a GCI segue atentamente e tem trazido também para o mercado português.

 

A publicação enalteceu também a área digital da Edelman e a contribuição da empresa para o mercado e profissão de Public Relations. E basta seguir este link para perceber como a Edelman está a mudar – e a liderar – o mercado mundial de Public Relations.

Combater o insucesso escolar com a educação ambiental

17.03.11, José Manuel Costa

Tenho dedicado algumas linhas, neste blog, à SIC Esperança, devido aos vários projectos que, directa ou indirectamente, temos desenvolvido com o projecto de responsabilidade social da SIC (ou, melhor escrevendo, de todo o universo SIC).

 

Hoje vou falar de uma iniciativa (mais uma) que junta a SIC Esperança e a Entrajuda – dois pesos pesados da inclusão social em Portugal – e tem na Sociedade Ponto Verde o grande dinamizador.

 

O projecto tem um nome familiar – “Reciclar é dar e receber” – e, como pano de fundo, relaciona – e promove – a prevenção do insucesso escolar com a contribuição para o aumento da reciclagem das embalagens usadas de vidro.

 

A campanha vai possibilitar a criação de salas de estudo para os mais jovens – pelo menos 20 salas de estudo distribuídas por todo o País. O objectivo da SPV é ajudar 600 crianças a terem um sítio melhor para estudar.

 

Unindo a área social com a ambiental, a SPV consegue também quebrar tabus relacionados com o insucesso e abandono escolar e a sua relação com a educação dos jovens, sobretudo com a edução ambiental.

 

Finalmente, a Entrajuda vai garantir que os voluntários desempenharão um papel determinante no sucesso do projecto, uma vez que será deles que dependerá o acompanhamento das crianças nas salas de aula.

 

Tenho a certeza que a campanha vai ser um sucesso. Às vezes, basta uma simples clique para juntar interesses comuns, ainda que independentes, e que conseguem realmente mudar mentalidades.

 

A mecânica da iniciativa vai levar a SPV a entregar um euro – para a criação das salas de estudo – por cada tonelada de vidro enviada para reciclagem em 2011.

 

Entrajuda e SIC Esperança vão seleccionar e acompanhar as IPSS que receberão a sala de estudo. As candidaturas destas instituições estão disponíveis de 28 de Março a 1 de Abril nos três sites (SPV, Entrajuda e SIC Esperança).

Empresas espanholas criam entidade para recuperar a imagem do País

14.03.11, José Manuel Costa

El Corte Inglés, Telefónica, Santander e Repsol são algumas das empresas que fazem parte do grupo fundador de um organismo que pretende melhorar a competitividade do núcleo empresarial espanhol – servindo, simultaneamente, de bloco de força e credibilidade internacional.

 

Não é a primeira vez que nuestros hermanos o fazem. Há um ano, as Câmaras de Comércio espanholas e várias empresas do IBEX 35 já tinham lançado a campanha Esto Solo lo Arreglamos Entre Todos, para tentar aumentar o nível de confiança e moral dos cidadãos espanhóis.

 

Esta nova estrutura – Conselho Empresarial para a Competitividade – é composta pelo Instituto de Empresas Familiares espanhol e por 17 das maiores empresas daquele País.

 

Para percebermos a importância deste conselho na realidade espanhola, basta ver quem é o presidente: César Alierta, o presidente da Telefónica.

 

“As companhias espanholas não merecem ser alvo de desconfiança internacional”, começou por explicar Alierta, citado pelo El País.


Emílio Botin (Santander), Francisco González (BBVA), o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez (ACS), António Brufau (Repsol), Pablo Isla (Inditex) ou Ignacio Galán (Iberdrola) são outros dos nomes que integram este conselho.

 

O conselho é constituído por empresas cujo valor de facturação conjunto soma 35,2% do PIB espanhol, sendo responsável pelo emprego de 1,7 milhões de pessoas.

A marca espanhola está a ser penalizada no mercado internacional - e estes empresários e líderes empresariais sabem-no melhor que ninguém. Tentar reverter esta situação é outro dos objectivos deste conselho. Deixo-vos uma pergunta: não deveríamos estar a desenvolver, em Portugal, um projecto semelhante? 

Simon Kuper

04.03.11, José Manuel Costa

Simon Kuper é mais de que um escritor britânico com raízes no Uganda, África do Sul, Holanda e França, ele é um dos melhores colunistas do Financial Times, com a particularidade que escreve, sobretudo, sobre futebol (e até tem direito a perfil na Wikipedia).

 

Há uns dias, Kuper defendeu no FT que os países em desenvolvimento estavam (também) a ganhar a batalha pelos eventos desportivos.

 

Sim, é verdade, eu próprio já o tinha aqui afirmado, ainda que numa óptica de eventos generalistas e não apenas desportivos.

 

Desde Maio de 2008, recorda Kuper, a Rússia organizou uma final da Champions League e foi escolhida para sede de um Mundial, a China conseguiu um brilharete com os Jogos Olímpicos de Pequim, o Qatar receberá também um Mundial, assim como o Brasil, que acumula esta organização com uns sempre complicados Jogos Olímpicos.

 

Isto para não falar do Mundial 2010.

 

Diz Kuper que este fenómeno é mais que global… é regional. Veja-se o caso dos jogos da Commonwealth, que se realizaram na Índia.

 

Esta tendência, creio, veio para ficar. Para além de dar prestígio ao País em questão, volto a frisar que estes eventos são oportunidades para dotar os respectivos países e cidades que os recebem de um conjunto de infra-estruturas ligadas à sustentabilidade urbana, melhoria da qualidade de vida e mobilidade dos cidadãos.

 

É esse, para mim, o maior desafio, por exemplo, de cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo – até porque, como Kuper bem explica citando economistas especializados em desporto, não está provado que organizar um evento traga nem mais turismo nem investimento estrangeiro para os respectivos países.

Uma geração para mudar as mentalidades

01.03.11, José Manuel Costa

Na semana passada, o presidente e CEO da Edelman, Richard Edelman, visitou Houston e Dallas, duas das maiores cidades do Texas – e dos Estados Unidos (o Texas é o segundo Estado norte-americano em área e população).

 

Na sequência da visita, Edelman escreveu várias considerações sobre o estado texano no seu blog. Uma delas tinha como pano de fundo o trânsito caótico de Dallas.

 

“Aposto que não sabiam que Dallas é a primeira cidade norte-americana em metro ligeiro, com 115 quilómetros de linha. Morgan Lyons, o media relations manager da DART, a autoridade de trânsito local, disse-me que 45 desses quilómetros foram construídos no final de 2010”, começou por afirmar Edelman.

 

“Ele disse-me que demorará uma geração a tirar os cidadãos dos seus carros e colocá-los no metro. [Disse-me] ainda que existe uma maior aceitação [do metro ligeiro] por parte de quem se mudou para Dallas de cidades como Nova Iorque ou Chicago, onde o trânsito caótico é uma forma de vida”, continuou Richard Edelman.

 

Se por um lado uma geração parece, de facto, demasiado tempo, não é menos verdade que se uma cidade como Dallas conseguir tornar os seus cidadãos em modelos de mobilidade sustentável, então todas - ou quase todas - o conseguirão fazer.

 

Ora vejamos: há uns meses li este post do Streetsblog (que, aliás, recomendo), com alguns dados interessantes. Publicado no dia em que Dallas inaugurou 45 quilómetros de metro ligeiro, o Streetsblog afirma que, apesar do forte investimento em infra-estruturas de promoção da mobilidade sustentável, o número de texanos a frequentar diariamente os transportes públicos tinha, entre 2000 e 2010, diminuído.

 

Assim, apenas 4% do total da população utiliza os transportes públicos, num total de 60 mil pessoas em 1,3 milhões.

 

O blog afirma que um dos argumentos para esta estatística é a grande distância a pé que se tem de percorrer entre as estações e as zonas residenciais. Outro são os preços de estacionamento que não reflectem, de forma alguma, os verdadeiros custos de manter um carro parado.

 

O blog dá também o exemplo de Estrasburgo, cujo metro ligeiro tem apenas 55 quilómetros de comprimento, mas cerca de 300 mil passageiros diários. Onde está Dallas a errar? Para começar, incentiva – realmente – a utilização do carro na cidade. E no centro da cidade.

 

A baixa de Dallas tem 138 mil empregos – bem mais que a maioria das cidades – por isso seria, à partida, um bom sítio para angariar passageiros. E o que faz Dallas? Constrói enormes parques de estacionamento em quase todos os quarteirões, cobrando apenas 70 cêntimos por hora. “Quando é fácil chegar de carro, o facto é que as opções de mobilidade sustentável são facilmente mal sucedidas”, diz o Streetsblog.

 

Mais: Dallas não ficará por aqui e vai continuar a expandir as suas linhas de transportes públicos. É bom que a cidade que desenvolva as áreas adjacentes às estações – ninguém gosta de estações no meio do nada – e que mude as suas políticas destinadas ao veículo privado.

 

Finalmente, a conclusão de Edelman da sua estadia no Texas: “Consigo ver uma evolução na mentalidade dos texanos. O pistoleiro-com-uma-forte-personalidade está a dar lugar ao empreendedor ambicioso e determinado, que pensa globalmente, envolve-se com a comunidade e abraça a diversidade cultural. Há um compromisso pragmático para se tornar num líder global em saúde, energia, educação e tecnologia”.

 

É necessário, “apenas”, mudar a mentalidade no que toca à mobilidade sustentável. E mudar a forma como ele continua a olhar para o automóvel como o centro do mundo. E é, de resto, incentivado a fazê-lo. E se o texano, com todos os condicionalismos culturais e históricos, pode mudar – e quer mudar – por que não os portugueses?