Porque teimamos em destruir os símbolos nacionais?
Ontem, quando assistia ao rescaldo do Liverpool-Benfica, lembrei-me de algo que, não tendo directamente a ver com esse tema, assemelha-se de um ponto de vista conceptual: não há melhor nação para destruir os seus símbolos que a portuguesa. Do oitenta ao oito, literalmente, em minutos.
Saramago, Figo, Mourinho, Amália, Cristiano Ronaldo. Todos eles, em situações mais recentes ou mais longínquas, por uma razão ou por outra, já foram visados, directa ou indirectamente, de forma contextualizada ou vice-versa, por esta onda de críticas e más línguas.
O futebol, como todos sabemos, desperta paixões em todo o mundo. Os portugueses – nós, os cidadãos comuns – são essencialmente “reconhecidos” lá fora por termos a mesma nacionalidade de Figo, Cristiano Ronaldo, Eusébio ou Mourinho. Porque razão, então, seremos tão injustos com eles no regresso a casa?
Portugal tem este condão de, de um dia para o outro, destruir a reputação de quem passou anos a trabalhar para merecer este reconhecimento. Em Portugal condenam-se pessoas na praça pública, fazem-se julgamentos morais antecipados e, porque não dize-lo, diz-se mal só por dizer. É a nossa sina.
Se já somos, por natureza, desconfiados, esta desconfiança ganha outra proporção em períodos de crise económica, como o que estamos a passar. Basta avaliar os recentes resultados do Edelman Trust Barometer Portugal. Somos um dos países com piores percentagens de confiança no Governo, empresas, media e até ONG.
Há um dado que chamo a atenção, e que reforça o tema do post: somos, de longe, o país que mais credibilidade dá às conversas com familiares e amigos (53% contra 37% da Espanha, União Europeia e resto do mundo). O que, por um lado, é bom. Quer dizer que confiamos nas pessoas como nós.
Por outro lado, porém, pode ser um perigo. Pode alimentar os boatos do diz-que-disse, com as respectivas repercussões que isso pode ter em quem é citado.
Saramago, Figo, Mourinho, Amália, Cristiano Ronaldo – que já tanto fizeram por Portugal - que o digam. Todos já o sentiram na pele. Porque teimamos em destruir os nossos símbolos nacionais?