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José Manuel Costa

José Manuel Costa

O que nos está a passar ao lado (2)

18.05.10, José Manuel Costa

Não consigo olhar para esta notícia da SIC sem relacioná-la com o artigo de hoje de Bjorn Lomborg no Jornal de Negócios.

 

Comecemos pela primeira: segundo a Comissão Europeia, as emissões de gases com efeito de estufa nas instalações abrangidas pelo sistema europeu de licenças de emissão da União Europeia diminuíram 11,6% de 2008 para 2009 – para os 1,873 mil milhões de toneladas equivalentes a dióxido de carbono (CO2). Uma boa notícia, sem dúvida…

 

Ou não? “Estes números não constituem uma grande surpresa, por causa da crise”, explicou a comissária europeia para a Acção Climática, Connie Hedegaard.

 

Hedegaard afirmou ainda que, “infelizmente, o investimento das empresas europeias na inovação ficou muito aquém do planeado, o que pode pôr em causa a futura capacidade para competir em novos mercados”.

 

Ainda que o motivo para esta descida das emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia seja a crise económica, vale a pena comparar esta notícia com o artigo de Bjorn Lomborg, hoje no Jornal de Negócios.

 

Nele, o dinamarquês explica, tendo como ponto de partida a iniciativa “Hora do Planeta”, que a solução válida para o problema do aquecimento global passa pela investigação e desenvolvimento de energias limpas - e não pela nossa fixação em promessas “vazias” de redução das emissões de carbono.

 

Sobre a iniciativa “Hora do Planeta”, Lomborg roçou o gozo. “A principal contribuição desta iniciativa foi [o facto de] que, durante uma hora, era mais difícil ver. O impacto ambiental foi insignificante”.

 

E depois, vieram as conclusões mais “violentas”. “Mesmo que todos os habitantes da Terra tivessem participado nesta iniciativa, o resultado seria equivalente a parar as emissões de carbono da China durante 45 segundos”, explicou.

 

Foi uma acção positiva e meritória? Foi, diz Lomborg. Mas teve algum contributo – mais do que o simbólico – para o Planeta? Não. “Por muito que nos custe acreditar no contrário, a realidade é que a redução de emissões não vai ser alcançada com um acordo. Se isso fosse politicamente possível, já teria sido feito há muito tempo – se não na Cimeira da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, então em Quioto, 12 anos mais tarde; e se não em Quioto, então em Copenhaga, em Dezembro passado”.

 

Não sou tão fundamentalista quanto Lomborg, apesar de compreender onde ele quer chegar. Aliás, tenho mesmo defendido aqui várias vezes que a mudança de mentalidades é meio caminho andado para conseguir fazer acontecer. Mas, volto a frisar, compreendo o raciocínio de Lomborg. E a verdade é que existem outros projectos - como o Limpar Portugal - que são tão meritórios, mas que conseguem resultados mais interessantes. É tudo uma questão de estratégia.

 

Volto a citar o dinamarquês Lomborg para terminar este post. “Por apenas 0,2% do PIB mundial, ou seja, 81 mil milhões de euros, poderíamos alcançar os avanços tecnológicos necessários para tornar a energia verde suficientemente barata para alcançarmos um futuro livre de carbono”. Pois… Mas quem estará disposto a dar o primeiro passo?